DIRECTV dos EUA remove 26 canais do grupo Viacom 15/07
Não é só no Brasil
que os usuários de TV por assinatura ficam sem alguns dos seus canais
preferidos por conflitos de interesses entre programadoras e
distribuidoras de conteúdo. A partir de ontem (10/07), os mais de 20
milhões de assinantes da operadora de TV
paga norte-americana DIRECTV
estão com 26 canais a menos na sua grade de programação, todos eles
correspondentes ao grupo Viacom. O motivo disso, os assinantes
brasileiros bem conhecem: divergências nos valores da renovação
contratual entre as duas partes.
Entre
os canais que foram removidos do line-up da DIRECTV a partir das 23h50
(horário da Costa Leste dos EUA) de ontem estão alguns dos mais
populares entre os assinantes da operadora e do público norte-americano
em geral, como MTV, VH1, Comedy Central, BET, CMT, TV Land, Tr3s e
AMC. Mas o grande
prejuízo para a operadora é a saída do Nickelodeon, que é o líder em
audiência da operadora (o público infantil da DIRECTV passa 50% do
tempo assistindo algum canal do grupo Nickelodeon).
O
caso está tendo uma grande repercussão nos Estados Unidos, não só pela
consequência em si da divergência, mas dos motivos que motivaram tal
decisão da DIRECTV. Afinal de contas, são 26 canais. Se no Brasil,
quando um canal sai da grade de forma injustificada, temos uma grande
manifestação nas redes sociais e muitas reclamações no setor de
atendimento da operadora, imagine então se uma quantidade tão grande de
canais simplesmente desaparecesse de sua grade?
Nickelodeon foi substituído por mosaico, com os demais canais infantis da DIRECTV
Para
entender o que está acontecendo, temos que voltar ao ano de 2005.
Nesse ano, Viacom e DIRECTV fecharam um acordo para a oferta dos seus
canais na operadora. Na época, ficou acordado que, durante esse
período, os valores cobrados pela Viacom não teriam nenhum tipo de
reajuste, e em um valor muito abaixo do que os concorrentes da empresa
(principalmente a Dish Networks) pagava pelos mesmos canais. Afinal, a
DIRECTV estava adquirindo um pacote completo de canais. Esse acordo era
muito bom para os dois lados (na época, é claro): a Viacom expandia os
seus negócios para uma grande base de assinantes, e a DIRECTV ampliaria
o seu pacote de canais com um investimento mínimo.
E
isso deu resultado: 20% da audiência total da DIRECTV vem dos canais
da Viacom. Isso é mais do que é encontrado em qualquer outra operadora
de TV paga nos EUA.
Por
outro lado, o tempo passou, novas tecnologias surgiram, e todo mundo
teve que investir nessas novas tecnologias. Incluindo a Viacom, que
começou a oferecer os seus canais em alta definição, além das
plataformas on demand. E, no caso em específico da DIRECTV, com um custo
inferior a 5% da sua despesa total com programação, o acordo se tornou
muito desfavorável para o lado da Viacom.
A
Viacom conseguiu renovar os seus contratos de programação com 12
operadoras norte-americanas, sem resultar em nenhum impacto para os
assinantes (seja em remoção de canais, seja em aumento nas
mensalidades). Enquanto isso, a DIRECTV norte-americana arranjou briga
com todo mundo: FOX, Diversifield Communications, G4, Versus, YES,
Sunbeam e Northwest Broadcasting tiveram dificuldades e/ou não
conseguiram chegar a um acordo com a operadora, resultando na remoção de
canais do pacote de assinantes.
Assim
como no Brasil (chego lá daqui a pouco), a diferença entre DIRECTV e
Viacom pode estar nos centavos. A Viacom quer aumentar alguns centavos
por dia para oferecer os seus canais na operadora. A DIRECTV alega que,
se aceitar o acordo, o impacto nas receitas seria de US$ 1 bilhão.
Nesse meio tempo, quem paga o pato (ou nem paga, pois não assiste) é o
assinante, que recorre à internet para assistir ao conteúdo desses
canais.
E no Brasil?
No
Brasil, o negócio é parecido, e com uma certa similaridade. A
operadora SKY Brasil, na verdade, é a antiga DIRECTV Brasil. No momento
da fusão das duas operadoras, ficou o nome mais popular (SKY), e
diferente do que muitos pensam, foi o DIRECTV Group que comprou a SKY
Brasil, e não o contrário. Dito isso, a SKY Brasil tem um histórico
semelhante à “co-irmã norte-americana” nos embates de negociação com
programadoras.
Dois
exemplos clássicos podem ser citados: a briga da SKY Brasil com o
Grupo Abril, que deixou os seus assinantes sem o canal MTV Brasil. A
operadora alega que o Grupo Abril resolveu cobrar um “valor muito
elevado” (que nunca foi revelado) para renovar o acordo de oferta do
canal. Já o Grupo Abril acusa a SKY de “concorrência desleal”, para
favorecer o canal do grupo Globosat, o Multi Show. De qualquer forma,
com as novas legislações de ofertas de conteúdo de TV aberta, a MTV
Brasil pode (veja bem, é uma possibilidade, e eu não estou afirmando
nada) retornar à grade da operadora, mas de forma obrigatória, uma vez
que a lei prevê que toda operadora de TV por assinatura no Brasil deve
ser obrigada a oferecer gratuitamente os canais abertos que estão
presentes nas cinco regiões do país em rede. Essa lei ainda está em
discussão.
O
segundo exemplo é mais recente. A briga entre SKY Brasil e o grupo FOX
foi emblemática, e a estratégia da SKY foi a mesma adotada pela
DIRECTV nos EUA: remover os canais do grupo FOX da grade, uma vez que as
duas empresas não entravam em acordo em relação ao canal FOX Sports.
De um lado, o Grupo FOX alegava que o impacto no valor do novo canal
seria de, no máximo, R$ 4, e isso porque eles ofereciam a opção de
substituição do Canal Speed pelo FOX Sports, sem custo para as
operadoras. Ja a SKY Brasil alegava que o valor era elevado demais, e
não cogitava substituir um canal por outro. Como “tática” para
pressionar programadora e assinantes, a SKY ameaçou remover todos os
canais do grupo FOX de seu line-up. No fim, o acordo entre as duas
partes foi renovado, e o FOX Sports está na grade da SKY. Mas, para isso
acontecer… deu um trabalho…
Por fim, fica a pergunta: se isso acontecesse no Brasil… qual seria a reação dos nossos assinantes?
fonte : Tv magazine feedback